E respondeu Eliú, filho de
Baraqueel, o buzita, e disse: Eu sou de menos idade, e vós sois idosos;
receei-me e temi de vos declarar a minha opinião. Dizia eu: Falem os dias, e a
multidão dos anos ensine a sabedoria." (32:6-7). Esta é a ordem natural das coisas. Pressupomos que
a sabedoria esteja na cabeça dos homens na mesma medida que os seus cabelos
brancos; é, pois, razoável e conveniente que os jovens sejam prontos para ouvir
e tardos para falar na presença dos seus maiores. Podemos assentar, como um
princípio quase invariável, que um jovem impetuoso não é conduzido pelo
Espírito de Deus; que jamais se tem medido na presença divina, e que nunca tem
quebrantado o seu coração diante de Deus. Não tem dúvida de que como sucedeu
com Jó e seus amigos— muitas vezes homens maiores proferem muitas palavras sem
sentido. Os cabelos brancos e a sabedoria nem sempre caminham junto; e também é
um fato não pouco freqüente que homens de idade, apoiando-se meramente no
número dos seus anos, se atribuem um lugar para o qual não têm nenhum direito
moral, intelectual nem espiritual. Tudo isto que dizemos é perfeitamente certo,
e digno da consideração de aqueles que pudessem sentir-se identificados com
estas coisas. Mas todas estas misérias não desmerecem no mínimo o delicado
sentimento moral que pode ver-se nas primeiras palavras de Eliú: "Eu
sou de menos idade, e vós sois idosos; receei-me e temi de vos declarar a minha
opinião". Isto sempre estará bem. Sempre é bom e agradável que um
jovem tema declarar a sua opinião. podemos ter certeza de que um homem que possui
força moral interior jamais procurará levar vantagem com precipitação; senão,
pelo contrario, quando se coloca na frente, está seguro de que vai ser ouvido
com respeito e atenção. A modéstia em combinação com a força moral comunicam um
irresistível atrativo ao caráter da pessoa; em tanto que os talentos mais
esplêndidos perdem brilho a causa de uma personalidade confiada em si mesma. "Na
verdade continua a falar Eliú, há um espírito no homem, e a inspiração
do Todo-Poderoso os faz entendidos" (32:8). Aqui se introduz um
elemento completamente diferente. Apenas o Espírito de Deus entra em cena, já
não se trata de uma questão de juventude nem de velhice, pois Ele, para falar,
pode se servir de um jovem ou de um homem maduro. "Não por força, nem
por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos" (Zacarias
4:6). Isto rege sempre. Foi verdadeiro para os patriarcas, verdadeiro para os
profetas, verdadeiro para os apóstolos e é verdadeiro para nós e para todos.
Não se trata aqui da força nem do poder humano, senão do Espírito eterno. Nisto
estriba o segredo do calmo poder de Eliú. Ele estava cheio do Espírito; e
então, esquecemos a sua juventude para prestar ouvidos às palavras de peso
espiritual e de sabedoria celestial que brotam de seus lábios; e isso noz faz
lembrar a Aquele que falava como quem tem autoridade, e não como os escribas.
Existe uma notável diferença entre um homem que fala como os oráculos de Deus e
outro que fala simplesmente de forma normal; entre um que fala desde o coração,
com a santa unção do Espírito, e outro que fala desde o intelecto com a
autoridade humana. Quem poderia estimar devidamente a diferença entre estas
duas coisas? Ninguém, a exceção daqueles que possuem e exercitam a mente de
Cristo. Mas voltemos às palavras de Eliú: "Os grandes não são os
sábios, nem os velhos entendem o que é reto. Pelo que digo: Dai-me ouvidos, e
também eu declararei a minha opinião. Eis que aguardei as vossas palavras, e
dei ouvidos às vossas considerações, até que buscásseis razões. Atendendo,
pois, para vós, eis que nenhum de vós há que possa convencer a Jó, nem que
responda às suas razões" (32:9-12). Notemos particularmente isto:
"nenhum de vós há que possa convencer a Jó". Isto claramente
era suficiente. Jó, no final da discussão, estava tão longe de ter sido
convencido quanto o estava no começo da mesma. E podemos dizer, em efeito, que
cada novo argumento extraído do tesouro da experiência, da tradição e da
legalidade não serviram mais que para provocar novas e mais profundas manifestações
da natureza não julgada, não subjugada e não mortificada de Jó. Mas, quão
instrutiva é a razão de tudo isto!: "Para que não digais: Achamos a
sabedoria, Deus o derribou, e não homem algum" (32:13). Nenhuma carne
se gloriará na presença de Deus. A carne pode vangloriar-se e orgulhar-se das
suas empresas, enquanto Deus não é levado em consideração. Mas, leitor, ao
introduzir a Deus, toda soberba e vangloria, toda ilusão vaidosa, toda
jactância e arrogância se dissipam em um abrir e fechar de olhos. Lembremos
isto. "A jactância é excluída" (rom 3:27). Sim, toda jactância, a de
Jó e a dos seus amigos. Se Jó tivesse conseguido estabelecer suas pretensões,
teria se vangloriado. Se, por outra parte, seus amigos tivessem conseguido lhe
tapar a boca, eles que teriam se jactado. Porém não, "o vence Deus, não
o homem". Assim foi, assim é e assim vai ser sempre. Deus sabe como
humilhar um coração soberbo e avassalar uma vontade inflexível. De nada serve
que um se enalteça a si mesmo, pois podemos tirar o cavalinho da chuva que quem
quer que se enaltecer será, antes ou depois, humilhado. O governo moral de Deus
tem determinado que todo o que se eleve e enaltece deve ser derrubado até o pó.
Esta é uma verdade saudável para todos nós; mas especialmente para os jovens entusiastas
e para os ambiciosos. A senda humilde, recatada e oculta é,
inquestionavelmente, a melhor, a mais segura e ditosa. tomara que podamos
segui-la sempre, até que alcancemos essa cena brilhante e abençoada, onde o
orgulho e a ambição são coisas desconhecidas! As palavras de apertura de Eliú
produziram um efeito surpreendente nos três amigos de Jó: "Estão
pasmados, não respondem mais, faltam-lhes as palavras. Esperei, pois, mas não
falam; porque já pararam, e não respondem mais. Também eu responderei pela
minha parte; também eu declararei a minha opinião" (32:15-17). E
seguidamente, para que ninguém supunha que ele estava falando as suas próprias
palavras, agrega: "Porque estou cheio de palavras; o meu espírito me
constrange" (32:18). Esta é a verdadeira fonte e poder de todo
ministério em todas as épocas. Se não é a "inspiração" ou "o
sopro do Onipotente", tudo é em vão. Reiteramos, esta é a verdadeira fonte
do ministério em todos os tempos e em todos os lugares. E, ao dizer isto, não
devemos esquecer que quando o nosso Senhor Jesus Cristo ascendeu ao céu e
sentou à destra de Deus em virtude de uma redenção cumprida, teve lugar uma
grande mudança. Em outras oportunidades, já nos referimos muitas vezes a esta
gloriosa verdade, pelo que não abundaremos em detalhes a seu respeito. A
mencionamos aqui meramente para que o leitor não ache que quando falamos da
verdadeira fonte do ministério em todas as épocas, estamos esquecendo o que é
característico e distintivo da igreja de Deus na presente dispensação, como
conseqüência da morte e ressurreição de Cristo e da presença e morada do
Espírito Santo tanto no crente individual como na igreja, que é o corpo de
Cristo na terra. Nada mais longe dos nossos pensamentos! Graças a Deus temos um
sentido demasiado profundo do valor, importância e alcance prático dessa grande
e gloriosa verdade como para perdê-la de vista nem por um momento. De fato, é
precisamente este profundo sentido junto com a lembrança dos incessantes
esforços de Satanás por desconhecer a verdade da presença do Espírito Santo na
igreja— o que nos conduz a escrever este parágrafo admonitório. Porém, o
princípio de Eliú tem vigor em todos os tempos. Todo aquele que deva falar com
força e eficácia, devera ser capaz de dizer, em alguma medida: "Porque
estou cheio de palavras; o meu espírito me constrange. Eis que o meu ventre é
como o mosto sem respiradouro, e virá a arrebentar, como odres novos. Falarei,
e respirarei; abrirei os meus lábios, e responderei." (32:18-20).
Assim será sempre, quanto menos em alguma medida, entre aqueles que queiram
falar com verdadeira força e eficácia ao coração e à consciência dos seus
semelhantes. Ao ler as ardentes palavras de Eliú nos vem forçosamente ao
pensamento essa memorável passagem do capítulo 7 de João: "Quem crê em
mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre"
(7: 38). É verdade que Eliú não conhecia a gloriosa verdade declarada aqui pelo
nosso Senhor, já que a mesma teve o seu cumprimento quinze séculos depois. Mas
sim conhecia então o princípio; ele possuía o germe do que, séculos mais tarde,
alcançaria uma plena florescência e maturidade. Sabia que para falar de uma
maneira decidida, incisiva e enérgica, devia fazê-lo com o "sopro do
Onipotente". Havia ouvido até o cansaço a homens que falaram um monte de
coisas sem sentido; que disseram algumas besteiras extraídas de sua experiência
e das paupérrimas adegas da tradição humana. Eliú tinha quase esgotado a sua
paciência com tudo isto, e então se levanta com a energia do Espírito para
dirigir-se aos seus ouvintes como um que era apto para falar como oráculo de
Deus. Nisto estriba o grande segredo da força e do êxito ministerial. "Se
alguém falar, fale segundo as palavras de Deus" (1 Pedro 4:11). Não se
trata simplesmente —note-se com cuidado de falar conforme às Escrituras: algo, com
certeza, sumamente importante e essencial. Mas é mais do que isso. Um homem
pode levantar-se e dirigir-se aos seus semelhantes durante uma hora, sem
pronunciar, durante todo o seu discurso, uma sola palavra que seja contra as
Escrituras; e, porém, todo esse tempo pode não ter sido oráculo de Deus; pode
não ter sido o porta-voz de Deus nem o expositor presente em Seus pensamentos
para as almas que o tenham escutado. Isto é especialmente solene, e demanda a
séria consideração de parte de todos aqueles que são chamados a abrir os seus
lábios em meio do povo de Deus. Uma coisa é expor certa quantidade de conceitos
corretos e verdadeiros, e outra ser o veículo de comunicação vivente entre o
mesmíssimo coração de Deus e as almas do Seu povo. Isto último —e somente isso—
é o que constitui a essência do verdadeiro ministério. Um homem que fala como
oráculo de Deus levará a consciência dos seus ouvintes à luz mesma da presença
divina, a ponto tal que cada canto do coração ficará descoberto, e centro
moral, tocado. Eis aqui o verdadeiro ministério. Quem não é assim carece de
força, de valor e de proveito. Nada pode ser mais deplorável e humilhante que
ter que ouvir a um homem que procura de forma evidente se valer dos seus próprios
recursos miseráveis e escassos, ou que oferece ao público verdades por conduto
alheio e por pensamentos emprestados de outros, como mercador de féria. Nada
melhor para eles que se chamar a silêncio, tanto para os seus ouvintes quanto
para si mesmos. Mas isto não é tudo. Freqüentemente podemos ouvir a um homem
expondo ante seus semelhantes o que sua própria mente meditou em privado com
muito interesse e proveito. Ele pode dizer verdades, e verdades importantes;
mas não a verdade que necessitam as almas dos santos, a verdade para esse
momento. No que respeita a seu tema, falou o tempo todo conforme as Escrituras,
mas não falou como oráculo de Deus. Assim sendo, que todos nós aprendamos esta
importante lição da atuação de Eliú; uma lição, sem dúvida, muito necessária.
Alguns podem se sentir dispostos a dizer que se trata de uma lição muito dura e
difícil. Mas não; se vivermos na presença do Senhor, no sentimento de que não
somos nada e de que Ele basta para todo, aprenderemos a conhecer o precioso
segredo de um ministério eficaz. Saberemos apoiar-nos sempre e somente em Deus,
para sermos, no bom sentido, independentes dos homens; poderemos compreender o
significado e a força das seguintes palavras de Eliú: "Oxalá eu não
faça aceitação de pessoas, nem use de lisonjas com o homem! Porque não sei usar
de lisonjas; em breve me levaria o meu Criador." (32:21-22). Ao
estudar o ministério de Eliú, achamos nele dois grandes elementos: a graça
e a verdade. Ambos eram essenciais para tratar com Jó; e, em
conseqüência, os dois brilham com extraordinário poder. Eliú diz a Jó e aos
seus três amigos muito claramente que não sabe falar lisonjas, que não sabe dar
títulos lisonjeiros a um pobre mortal culpável, por muito que esse mortal fosse
gratificado por eles. O homem deve ser levado ao conhecimento de si mesmo, a
ver a sua verdadeira condição e a confessar o que realmente é. Isto era
precisamente o que necessitava Jó. Ele não se conhecia a si mesmo, e os seus
amigos não puderam conduzi-lo ali. Necessitava o julgamento de si mesmo, mas os
seus amigos foram totalmente incapazes de provocá-lo. Eliú começa, pois,
dizendo a Jó a verdade. Apresenta a Deus em seu verdadeiro caráter. Isto é
precisamente o que não tinham feito os amigos. Sem dúvida, eles haviam aludido
a Deus; porém, as suas alusões eram escuras, destorcidas e falsas. Isto o vemos
com claridade ao ler estas palavras: "Sucedeu, pois, que, acabando o
Senhor de dizer a Jó aquelas palavras, o Senhor disse a Elifaz, o temanita: A
minha ira se acendeu contra ti, e contra os teus dois amigos, porque não
dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó. Tomai, pois, sete
bezerros e sete carneiros, e ide ao meu servo Jó, e oferecei holocaustos por
vós, e o meu servo Jó orará por vós; porque deveras a ele aceitarei, para que
eu vos não trate conforme a vossa loucura; porque vós não falastes de mim o que
era reto, como o meu servo Jó." (42:7-8). A sua falta tinha consistido
em que eles não tinham apresentado a Deus ante a alma do seu amigo,
impossibilitando assim que Jó se julgasse a si mesmo. Porém, Eliú não cometeu
esse erro. Ele seguiu um critério totalmente diferente. Fez com que a luz da
"verdade" atuasse sobre a consciência de Jó e, ao mesmo tempo,
derramou o precioso balsamo da "graça" em seu coração, quando disse: "1
Assim, na verdade, ó Jó, ouve as minhas razões, e dá ouvidos a todas as minhas
palavras. Eis que já abri a minha boca; já falou a minha língua debaixo do meu
paladar. As minhas razões sairão da sinceridade do meu coração, e a pura
ciência dos meus lábios. O Espírito de Deus me fez; e a inspiração do
Todo-Poderoso me deu vida. Se podes, responde-me, dispõe bem as tuas razões, e
levanta-te. Eis que vim de Deus, como tu; do lodo, também, eu fui formado. Eis
que não te perturbará o meu terror, nem será pesada sobre ti a minha mão" (33:1-7).
Com estes acentos, o ministério da "graça" se revela de forma grata e
poderosa ao coração de Jó. O ministério dos três amigos carecia por completo
deste excelentíssimo ingrediente. Eles não se mostraram senão mas do que dispostos
a "agravar sua mão" sobre o coitado do Jó. Eram juizes
implacáveis, drásticos censores e intérpretes falsos. Podiam ver com maus olhos
e com frieza as feridas sofridas pelo seu afligido amigo, e surpreender-se de
como tinham chegado ali. Consideravam as ruínas de sua casa, e chegavam à dura
conclusão de que não só eram conseqüência de sua ma conduta. Contemplavam a sua
desvanecida fortuna e, com inexorável severidade, chegavam à conclusão de que a
perda da fortuna foi devida as suas faltas. Não demonstraram ser juizes totalmente
imparciais. Não compreenderam em absoluto os desígnios de Deus, nem perceberam
toda a força moral destas importantes palavras: "O Senhor prova o
justo" (Salmo 11:5). Em uma palavra, se extraviaram totalmente. Seu
ponto de vista era falso e, conseqüentemente, todo o seu campo visual,
defeituoso. Em seu ministério não havia nem "graça" nem
"verdade" e, por conseguinte, não puderam redargüir a Jó. O
condenaram isso sim, mas sem convencê-lo; quando o que deveriam ter feito era
redargüi-lo a fim de que se condenasse a si mesmo. O proceder de Eliú apresenta
aqui um vívido contraste com o deles. Ele anuncia a Jó a verdade; porém não
"se agravou a mão" sobre ele. Eliú havia aprendido a conhecer o
misterioso poder da "voz mansa e delicada" (1 Reis 19:12); conhecia a
virtude da graça que subjuga a alma e derrete o coração. Jó tinha proferido um
monte de falsas noções acerca de si mesmo, e essas noções tinham brotado de uma
raiz à qual era preciso aplicar o afiado machado da "verdade". "Na
verdade, tu falaste aos meus ouvidos; e eu ouvi a voz das tuas palavras;
dizias: Limpo estou, sem transgressão; puro sou; e não tenho culpa"
(33:8-9). Que palavras temerárias para um pobre mortal pecador! Com certeza,
embora aquela "luz verdadeira" na qual andamos ainda não havia
alumbrado a alma deste patriarca, bem podemos nos maravilhar de tal linguagem.
Mas o que vem depois? Ainda quando Jó era, aos seus olhos, tão limpo, tão
inocente e tão livre de maldade, diz de Deus: "Eis que ele acha contra
mim ocasiões, e me considerou como seu inimigo. Põe no tronco os meus pés, e
observa todas as minhas veredas." (33:10-11). Eis aqui uma palpável
discrepância. Como podia um Ser santo, justo e reto considerar como Seu inimigo
a um homem puro e inocente? O bem Jó se enganava a si mesmo o bem Deus era
injusto. Porém Eliú, como ministro da verdade, não é lento para pronunciar seu
juízo e noz dizer quem tem a razão: "Eis que nisto te respondo: Não
foste justo; porque maior é Deus do que o homem" (33:12). Que verdade
simples! A pesar disso, quão pouco compreendida! Se Deus é maior do que o
homem, então, obviamente, Ele e não o homem— deve ser o Juiz que declara o que
é justo. O coração incrédulo rejeita isso, e daí vem a constante tendência a
julgar as obras, os caminhos e a Palavra de Deus; a julgar a Deus mesmo. O
homem, em sua ímpia e infiel insensatez, toma entre mãos pronunciar seu juízo
acerca do que é digno de Deus e do que não o é; ousa decidir o que Deus
deve o não deve dizer e fazer. Dá mostras de total ignorância acerca de essa
tão simples, evidente e necessária verdade, a saber, que "maior é Deus do
que o homem". Agora bem, quando nosso coração se inclina ante o peso desta
grande verdade moral, nos achamos então na atitude adequada para discernir o
objeto dos desígnios de Deus a respeito de nós. Ele seguramente terá a
primazia. "Por que razão contendes com ele? Porque ele não dá contas de
nenhum dos seus feitos. Antes Deus fala uma e duas vezes; porém ninguém atenta
para isso. Em sonho ou em visão de noite, quando cai sono profundo sobre os
homens, e adormecem na cama, Então abre os ouvidos dos homens, e lhes sela a
sua instrução. Para apartar o homem do seu desígnio, e esconder do homem a
soberba; Para desviar a sua alma da cova, e a sua vida de passar pela
espada." (33:13-18). O verdadeiro segredo de todos os falsos
arrazoamentos de Jó estriba no fato de que ele não compreendeu o caráter de
Deus nem o objeto de todos os Seus caminhos. Não viu que Deus o estava
provando, que Ele estava trás as cenas e que se servia de diversos agentes para
o cumprimento dos Seus propósitos sábios e cheios de graça. Ainda Satanás mesmo
era um simples instrumento nas mãos de Deus; ele não podia sequer ultrapassar a
grossura de um cabelo o limite divinamente prescrito. Mais ainda, uma vez que
levou a cabo a tarefa que havia-lhe sido determinada, foi demitido, e não
ouvimos falar mais dele no resto do livro. Deus desenvolvia os Seus desígnios
com Jó. O provava para instruí-lo, para apartá-lo de suas idéias e para
quebrantar o orgulho do seu coração. Se Jó tivesse discernido este importante
ponto, teria evitado um mundo de altercados e de contendas. Em vez de
irritar-se com os homens e as coisas com os indivíduos e com as influências—,
se teria julgado a si mesmo e inclinado diante do Senhor com humildade e numa
verdadeira contrição e quebrantamento de coração. Isto é de imensa importância
para todos nós. Somos muito propensos a esquecer o proeminente fato de que "o
Senhor prova o justo". "Do justo não tira os seus olhos"
(36:7). Estamos continuamente em Suas mãos e sob o Seu olhar. Somos os objetos
do Seu amor profundo, doce e invariável; mas também somos os objetos do Seu
sábio governo moral. Seus desígnios para conosco são diversos. Algumas vezes
são preventivos; outras, corretivos; mas sempre são instrutivos. As vezes
teimamos em seguir os nossos próprios caminhos, o fim dos quais seria a nossa
ruína moral. Então, Deus irrompe em nossa marcha e nos dissuade de nossas
intenções. Destrói os nossos castelos de ilusões, dissipa os nossos sonhos
dourados e frustra muitos planos queridos que apaixonam nosso coração, mas cuja
realização teria significado a nossa ruína. "Eis que tudo isto é obra
de Deus, duas e três vezes, para com o homem, Para desviar a
sua alma da perdição, e o alumiar com a luz dos viventes." (33:29-30).
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