Se o leitor confrontar um momento com
Hebreus 12: 3:12 ("Considerai, pois, aquele que suportou tais
contradições dos pecadores contra si mesmo, para que não enfraqueçais,
desfalecendo em vossos ânimos. Ainda não resististes até ao sangue, combatendo
contra o pecado, E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como
filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor, e não desmaies quando,
por ele, fores repreendido; Porque o Senhor corrige o que ama, e açoita a
qualquer que recebe por filho. Se suportais a correção, Deus vos trata como
filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija? Mas, se estais sem
disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, e não
filhos. Além do que tivemos os nossos pais, segundo a carne, para nos
corrigirem, e nós os reverenciamos; não nos sujeitaremos, muito mais, ao Pai
dos espíritos, para vivermos? Porque aqueles, na verdade, por um pouco de
tempo, nos corrigiam, como bem lhes parecia; mas este, para nosso proveito,
para sermos participantes da sua santidade. E, na verdade, toda a correção, ao
presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas, depois, produz um
fruto pacífico de justiça, nos exercitados por ela. Portanto, tornai a levantar
as mãos cansadas, e os joelhos desconjuntados."), achará muitas
instruções preciosas acerca do tema dos caminhos de Deus com Seu povo. Não é o
nosso propósito deter-nos nesta passagem, senão simplesmente fazer notar que a
mesma representa três maneiras diferentes em que podemos receber o castigo da
mão do nosso Pai. Em primeiro lugar, podemos "menosprezar" a
disciplina, tomando-a como se a mão e a voz do Pai não interviessem no assunto.
Em segundo lugar, podemos "desmaiar" sob a disciplina, como se
fosse intolerável, e não o precioso fruto do seu amor. E por último, podemos
ser "exercitados" por meio dela, e assim recolher, ao seu
tempo, os "pacíficos frutos de justiça". Agora bem, se o nosso
patriarca tão só tivesse compreendido o brilhante fato de que Deus estava
concretizando os Seus desígnios para com ele; que o estava provando para seu
proveito ulterior; que empregava as circunstâncias, os homens, os sabeus e ao
mesmo Satanás como instrumentos em Suas mãos; se tivesse compreendido que todas
suas provas, a perda de tudo quanto possuía, suas desgraças e seus
padecimentos, não eram outra coisa senão as operações maravilhosas de Deus para
concretizar seus sábios e misericordiosos desígnios, e que Ele queria
seguramente aperfeiçoar coisas que considerava necessárias em seu querido e
muito amado servo porque para sempre é a sua misericórdia—; numa palavra, se Jó
tão só tivesse apartado do seu olhar todas as circunstâncias e causas
secundarias, e tivesse fixado seus pensamentos nada mais do que no Deus vivo, e
aceito todo como proveniente da Sua benévola mão, teria certamente obtido mas
rapidamente a divina solução de todas suas dificuldades. Este é precisamente o
grande obstáculo contra o qual de ordinário nos espatifamos. Todo em nossa
mente gira em torno aos homens e as circunstâncias. Não vemos mais que isso e
sua incidência em nós. Não caminhamos com Deus através ou, melhor, por cima das
circunstâncias, senão que, antes bem, permitimos que elas nos dominem. Em vez
de ver a Deus entre nós e as circunstâncias, deixamos que elas se interpunham
entre Deus e nós, velando-o assim dos nossos olhos. Deste modo perdemos o
sentido de Sua presença, a luz de Sua face e a santa tranqüilidade de estas em
Suas amantes mãos e sob o Seu paternal olhar. Viramos queixosos, impacientes,
irritáveis e criticadores. Nos distanciamos cada vez mais de Deus, da comunhão com
Ele; caímos em todo tipo de erros, julgando a tudo menos a nós mesmos, até que,
finalmente, Deus nos toma da mão e, mediante o Seu direto e poderoso
ministério, nos traz de volta a Ele em verdadeira contrição de coração e
humildade de mente. Este é o "fim do Senhor". Devemos concluir este
artigo. Com muito prazer nos estenderíamos mais sobre o bendito ministério de
Eliú. Com prazer e proveito poderíamos citar as suas outras apelações ao
coração e à consciência de Jó, seus cortantes argumentos e as suas incisivas
perguntas. Mas devemos deixar que o leitor medite por si mesmo os capítulos
restantes. Quando o hajamos realizado, veremos que tão pronto como Eliú termina
o seu ministério, Deus mesmo começa a tratar diretamente com a alma do Seu
servo (capítulos 38-41). Com o objeto de fazer sentir a Jó a sua própria
insignificância, Deus apela às obras da Criação que mostram Seu poder e
sabedoria. Não é a nossa intenção extrair fragmentos de uma das partes mais
sublimes e magníficas do inspirado cânon. Estas passagens devem ser lidas no
seu conjunto. Não necessitam nenhuma explicação. O único que poderia fazer o
dedo do homem é obscurecer seu brilho. A sua claridade só pode ser igualada a
sua grandeza moral. Todo o que queremos fazer é simplesmente chamar a atenção
ao poderoso efeito produzido no coração de Jó através do ministério mais
maravilhoso que possa ter ouvido jamais um mortal, a saber, o ministério
direito do mesmo Deus vivente. Este efeito foi triplo. Tocava a Deus, a Jó
mesmo e aos seus amigos; três pontos nos que precisamente estava tão
completamente errado. No que se refere a Deus, Eliú havia sinalado o erro de Jó
em estas palavras: "34 Jó falou sem ciência; e às suas
palavras falta prudência. Pai meu! provado seja Jó até ao fim,
pelas suas respostas, próprias de homens malignos. Porque ao
seu pecado acrescenta a transgressão; entre nós bate as palmas, e multiplica
contra Deus as suas razões. (...) 45 Bem sei eu que tudo podes, e nenhum dos
teus pensamentos pode ser impedido." (34:35-37; 45:2). Note-se a
mudança aqui. Dê ouvidos aos suspiros de um espírito verdadeiramente arrependido,
às breves expressões embora completas de um juízo retificado: "Então
respondeu Jó ao Senhor, e disse: Bem sei eu que tudo podes, e nenhum dos teus
pensamentos pode ser impedido. Quem é aquele, dizes tu, que, sem conhecimento,
encobre o conselho? Por isso falei do que não entendia; coisas que para mim
eram maravilhosíssimas, e que eu não compreendia. Escuta-me, pois, e eu
falarei; eu te perguntarei, e tu ensina-me. Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi,
mas agora te vêem os meus olhos." (42:1-5).
Retratação de Jó
Aqui, então, começa a retratação de
Jó. Todas suas anteriores declarações acerca de Deus e dos Seus caminhos ele as
assinala agora como "palavras sem entendimento". Que confissão! Que
momento na vida de um homem quando este descobre que tinha estado sumido
completamente no erro! Que notável mudança! Que profunda humilhação! Nos faz
lembrar a Jacó quando foi tocado no sítio da juntura da coxa, e teve que
aprender assim a sua absoluta debilidade e insignificância. Estes são momentos
transcendentais na história das almas; épocas esplêndidas, que deixam, em todo o ser moral e no caráter, uma pegada
indelével. Quando um começa a ter pensamentos corretos acerca de Deus, então
começa a julgar corretamente todas as coisas. Se os meus juízos acerca de Deus
são inexatos, também o serão os que tenha de mim mesmo, dos meus semelhantes e
acerca de tudo. Nisto estribava o problema de Jó. Seus novos pensamentos acerca
de Deus geraram de imediato nele novos pensamentos acerca de si mesmo. Sua
elaborada apologia da sua própria justificação, seu apaixonado egotismo, a sua
veemente satisfação e regozijo de si mesmo, os espaçosos argumentos em favor de
si mesmo, tudo foi feito de lado; tudo ficou eclipsado pelo brilho destas
quatro lacônicas palavras: "Eis que sou vil" (40:4). E o que
devia ser feito com este eu vil? Falar acerca dele? Elogiá-lo?
Ocupar-nos dele? Deliberar sobre ele? Providenciar os seus desejos? De maneira
nenhuma: "Me abomino" (40:6). Este é o verdadeiro terreno no
que todos nós devemos nos guardar. A Jó lhe custou muitíssimo tempo alcançá-lo,
e o mesmo pode nos custar a muitos de nós. Muitos dentre nós acreditam ter
conseguido acabar com o eu quando deram um assentimento nominal à
doutrina da corrupção humana ou julgaram algumas traças da mesma que se
manifestavam na conduta externa. Mas, ai!, é de se temer que pouquíssimos
dentre nós conheçamos realmente a plena verdade acerca de nós mesmos. Uma coisa
é dizer: "Nós somos vis", e outra muito diferente
exclamar com humilhação, desde o profundo do coração: "Eu sou
vil". Isto último só pode ser conhecido e experimentado na forma
habitual na imediata presença de Deus. As palavras "agora te vêem os
meus olhos" e "por isso, me abomino", sempre vão
juntas. Quando a luz do que Deus é ilumina meu entendimento acerca do que eu
sou, me abomino a mim mesmo; o aborrecimento próprio é então uma coisa real.
Não é de palavra nem de língua, senão de fato e em verdade. Se manifestará em
uma vida de renuncia própria, num espírito humilde, numa mente submissa e num
caminhar na graça através das cenas pelas quais somos chamados a transitar. De
pouco vale professar pensamentos vis acerca do eu quando, ao mesmo
tempo, somos prontos a ressentir-nos de qualquer menosprezo que nos façam; a
ofender-nos de qualquer insulto imaginário, de qualquer menoscabo ou detração.
O verdadeiro segredo para ter um coração quebrantado e contrito consiste em
permanecer na presença de Deus, e então seremos capazes de conduzir-nos
retamente para com todos aqueles com quem nos relacionamos. Assim, vemos que
tão pronto como Jó endireitou seus pensamentos acerca de Deus e de si mesmo,
também fez o mesmo acerca dos seus amigos, pois aprendeu a orar por eles. Sim,
ele conseguiu orar pelos "consoladores molestos" e pelos
"médicos nulos" (13:4); pelos mesmos homens com quem havia mantido
tão longas disputas com tanto inteireza e veemência. "E o Senhor virou
o cativeiro de Jó, quando orava pelos seus amigos" (42:10). Isto é de
uma grande beleza moral. É perfeito. É o fruto singular e delicado da primorosa
tarefa divina. Nada pode ser mais comovedor que ver os três amigos de Jó
mudando a experiência, a tradição e a legalidade por um precioso
"holocausto", e ver o nosso querido patriarca trocando as suas
amargas invectivas por uma grata oração de amor. Em resumidas contas, temos
ante nós uma cena que surpreende a alma por completo. Tudo está mudado; os
litigantes estão como no pó diante de Deus e nos braços uns dos outros. A
contenda chegou ao seu fim; a guerra de palavras terminou; e, no seu lugar,
temos as lágrimas do arrependimento, o grato cheiro do holocausto e o abraço do
amor. Que magnífica cena! Fruto precioso do ministério divino! Que falta? Que
mais é necessário? Que mais podemos agregar se Deus colocou a última pedra
deste precioso edifício? E vemos também que não há carências de natureza
nenhuma, pois lemos: "e o Senhor acrescentou a Jó outro tanto, em
dobro, a tudo quanto dantes possuía." (42:10). Mas, como se logrou
isto? Com que recursos? Foi acaso pela própria industria independente de Jó e
pela sua habilidosa administração? Não, tudo está mudado. Jó se encontra
moralmente num novo terreno. Ele tem novos pensamentos acerca de Deus, acerca
de si mesmo, dos seus amigos e de todas as suas circunstâncias; numa palavra,
todas as coisas são feitas novas. "Então vieram a ele todos os seus
irmãos, e todas as suas irmãs, e todos quantos dantes o conheceram, e comeram
com ele pão em sua casa, e se condoeram dele, e o consolaram de todo o mal que
o Senhor lhe havia enviado; e cada um deles lhe deu uma peça de dinheiro, e
cada um pendente de ouro. E assim abençoou o Senhor o último estado de Jó, mais
do que o primeiro; porque teve catorze mil ovelhas, e seis mil camelos, e mil
juntas de bois, e mil jumentas. Também teve sete filhos e três filhas. E chamou
o nome da primeira Jemima, e o nome da outra Cássia, e o nome da terceira
Keren-hapuch. E em toda a terra não se acharam mulheres tão formosas como as
filhas de Jó; e seu pai lhes deu herança entre seus irmãos. E, depois disto,
viveu Jó cento e quarenta anos; e viu a seus filhos, e aos filhos dos seus
filhos, até à quarta geração. Então morreu Jó, velho e farto de dias."
(42:11-17).
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