sábado, 3 de março de 2012

CONFISSÃO DE UM PECADOR




CONFISSÃO DE UM PECADOR
“Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias. Lava-me completamente da minha iniqüidade, e purifica-me do meu pecado. Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista, para que sejas justificado quando falares, e puro quando julgares. Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe.” Salmo 51:1-5
Normalmente é admitido que o Salmo cinqüenta e um talvez seja a exposição clássica no Velho Testamento sobre a questão do arrependimento. De fato, há um sentido em que se pode afirmar que talvez ele seja a exposição clássica sobre este assunto de arrependimento na Bíblia inteira. Ele é o registro da agonia da alma de Davi, o rei de Israel, após ter sido culpado de um crime particularmente terrível. Um pequeno sub-título na Versão Autorizada (Authorized Version) diz: “para o músico-mor, um Salmo de Davi, quando o profeta Nata veio a ele, após Davi ter possuído a Bate-Seba”. Noutras palavras, há um sentido em que não podemos compreender verdadeiramente este Salmo e seu ensino até que tenhamos em mente o pano de fundo que lhe deu existência.
É uma história muito desagradável. Todavia, devo lembrar-lhe dela porque a vida pode ser desagradável. Infelizmente, todos nós somos capazes de fazer coisas desagradáveis. A história em sua essência é esta: Davi era o rei de Israel,e neste momento particular no seu reinado, seus exércitos estavam ocupados numa guerra. O próprio Davi não estava com o exército; ele tinha permanecido em Jerusalém. É-nos dito que um dia aconteceu que ele estava assentado no terraço da sua casa, olhando, aparentemente distraído, à distância, quando viu uma linda mulher. A mulher era a esposa de um homem que estava combatendo com os exércitos de Davi contra o inimigo. Davi, tendo olhado, e gostado da mulher, cobiçou-a e ordenou que ela fosse trazida a ele. Ela veio e ele cometeu adultério com ela. Ele a seduziu. Então, para cobrir o seu pecado, ele comunicou com seu comandante-chefe, Joabe, e mandou dizer-lhe que enviasse para casa Urias, o heteu, o marido daquela mulher. Ele veio e teve uma entrevista com o rei. O rei, então, o despediu e o mandou para casa.
Mas Urias era um homem honrado e não foi para casa e para sua esposa. Ele sentiu que não deveria fazer isso quando os exércitos do rei estavam no campo de batalha e quando talvez o destino de Israel estivesse em perigo. Ele disse: “Não, não!!!... eu não posso fazer isso”, e ele dormiu na soleira da porta (do palácio). O rei ouviu isso e fez o pobre homem beber, numa tentativa de enviá-lo para sua casa. Contudo, novamente Urias recusou. Então Davi escreveu uma carta para Joabe e a enviou por mãos de Urias. Com efeito, ele disse: “eu quero ficar livre deste homem; você deve de uma forma ou de outra colocá-lo à frente da batalha”. Joabe executou a ordem. Organizou para que Urias, o heteu, e outros, fossem colocados à frente da batalha, onde a maioria dos homens valentes do exército inimigo estava presente. O pobre Urias foi morto. Desse modo, Davi obteve o que pretendia, foi satisfeito e tomou a mulher, Bate-Seba, a esposa de Urias, para ser uma de suas esposas. Tudo parecia perfeitamente bem. “...porém esta coisa que Davi fez pareceu mal aos olhos do Senhor” (2 Samuel 11:27). Davi, entretanto, estava totalmente feliz, até que Deus lhe enviou o profeta Natã. Natã disse ao rei: “eu tenho algo triste a relatar a você. Havia dois homens em seu reino; um era um homem rico e tinha grande rebanho e uma abundância de ovelhas e bois; e havia outro homem, um homem muito pobre que tinha apenas uma cordeirinha. Ela era um tipo de animal de estimação para ele. Mas aconteceu que quando alguém fez uma visita para o grande homem rico, em vez de matar uma de suas próprias ovelhas, ele tomou a cordeirinha do pobre homem e a matou e preparou-a para seu hóspede. O proprietário pobre foi esmagado pela dor”. Davi levantou-se irado e declarou: “o homem que cometeu essa coisa tão monstruosa deve ser punido imediatamente!” Natã, então, interrompeu-o e disse: “tu és o homem!”, indicando com isso que ele tinha proferido uma parábola para lembrá-lo e lhe destacar aquilo que ele mesmo havia feito no caso de Urias, o heteu. Esse é o pano de fundo. Davi, subitamente, olha-o e é tomado por um sentimento de culpa e horror, e foi nessa condição que ele escreveu este Salmo cinqüenta e um. Aí está a história, aí o pano de fundo. Pois bem, espero estudar este Salmo com vocês, porque ele encaminha a nossa atenção de maneira bem patente e convincente para algumas das verdades básicas e fatos concernentes à nossa vida neste mundo. Ele esquadrinha especialmente o grande assunto da nossa salvação. De acordo com a Bíblia, há certos passos que precisamos dar, necessariamente, antes que possamos conhecer a salvação de Deus em Jesus Cristo. Vamos à igreja domingo após domingo, porque estamos interessados na propagação do evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Minha única razão para me levantar no púlpito é que eu creio que aqui neste Livro está contido o caminho de Deus para a salvação da humanidade. Ele é a coisa principal que o mundo necessita hoje. Ele é a resposta para a necessidade do homem, e contudo, homens e mulheres o ignoram e o desprezam. Há muitos que estão interessados nele, e todavia eles não têm experimentado seu poder e graça salvadora. Por quê? Bem, eu simplesmente respondo que é devido eles não terem percebido que há certas coisas que devem acontecer antes que um homem possa experimentar a grande salvação que se encontra neste evangelho. Há certas coisas que devemos captar, que devemos agarrar, que devemos crer, e a primeira destas é o arrependimento. Essa é a razão pela qual estamos começando com este Salmo; devemos ser claros quanto a questão total do arrependimento. Leiam o caso de qualquer convertido que podem encontrar na Bíblia, e vocês sempre perceberão que este elemento — o arrependimento está presente. Leiam as vidas dos santos, leiam a história de homens que brilharam na Igreja de Deus em tempos passados, e verificarão que cada homem que realmente conheceu a experiência e o poder da graça de Deus em sua vida foi sempre um homem que demonstrou evidência de arrependimento. Portanto eu não hesito em fazer esta afirmação: sem arrependimento não há salvação. A necessidade de arrependimento é um daqueles absolutos a respeito dos quais a Bíblia não discute. Ela simplesmente o afirma. Ela simplesmente o postula. É impossível, eu afirmo, um homem se tornar cristão sem arrependimento; nenhum homem pode experimentar a salvação cristã até que conheça o que é arrepender-se. Por conseguinte, insisto que este é um assunto vital. João Batista quando iniciou seu ministério começou pregando o batismo de arrependimento para a remissão de pecados. Essa foi a primeira mensagem do primeiro pregador. Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, sabemos pelo relato de Marcos, por Sua vez começou Seu ministério pregando que os homens deveriam arrepender-se. Arrependimento é absolutamente vital. Paulo também pregou arrependimento para com Deus e fé em nosso Senhor Jesus Cristo. Pedro pregou no dia de Pentecoste o primeiro sermão sob o patrocínio da Igreja Cristã, e quando ele terminou certas pessoas clamaram, dizendo: “Que devemos fazer?” “Arrependei-vos!” — disse Pedro. Sem arrependimento não há conhecimento de salvação, não há experiência de salvação. É um passo essencial. Este é o primeiro passo.
“Muito bem,” diz alguém, “O que você quer dizer quando afirma que devemos nos arrepender?” Respondo: este Salmo é uma exposição clássica sobre todo o assunto e doutrina do arrependimento. Neste primeiro estudo, quero apenas tratar de um aspecto e de um passo daquilo que considero o primeiro passo no arrependimento. É convicção do pecado, ou, se vocês preferirem, é a confissão de nossa pecaminosidade. Se se importarem em dar um título a este sermão, poderiam dizer que iremos tratar da confissão do pecador, nossa convicção de pecado e a confissão de nossa pecaminosidade. Aqui, novamente, é algo que não hesito em descrever como um absoluto essencial. É devido os homens não perceberem o ensino bíblico concernente ao pecado que eles falham em compreender muitas outras coisas que estão presentes no evangelho cristão. Há tantas pessoas hoje que afirmam não ver a necessidade da encarnação; que não compreendem tudo o que se diz a respeito do Filho de Deus precisar descer para a terra; elas não entendem todo este falar a respeito de milagres e o sobrenatural; que não compreendem esta idéia da expiação e termos tais como justificação, santificação e o novo nascimento. Elas afirmam que não compreendem por que tudo isso parece ser necessário. Argumentariam da seguinte maneira: “Não seria na Igreja que todas essas teorias têm sido desenvolvidas, essas idéias puramente abstratas? Não seriam essas as coisas que tem excitado as mentes dos teólogos? O que elas têm a fazer conosco, e onde está a relevância prática delas?” Eu gostaria de salientar que pessoas que falam assim, o fazem porque não tem entendido a verdade acerca do pecado. Elas não percebem o verdadeiro significado do ensino bíblico a respeito do pecado. Não percebem que elas mesmas são pecadoras. Mas a Bíblia, em veemente contraste, insiste constantemente sobre isto do começo ao fim. Na verdade, eu colocaria o desafio da Bíblia ao mundo moderno nesta forma: ela nos afirma que a vida do homem, seja individual ou coletivamente, simplesmente não pode ser compreendida à parte da doutrina do pecado. Aqui nós estamos neste mundo moderno e complicado; estamos conscientes que alguma coisa está errada, e a pergunta é: “O que está errado?” Os políticos parecem não ser capazes de resolver os nossos problemas. Os filósofos estão fazendo perguntas, porém parece que eles não podem respondê-las. Todos os nossos esforços não conseguem colocar o mundo em ordem. A Bíblia diz: “Vocês estão ignorando a única coisa que é a chave para a situação! É o pecado. Eis a causa da angústia dos indivíduos, dos relacionamentos humanos mais íntimos, dos relacionamentos internacionais em toda parte. Aí está o problema”. A Bíblia enfatiza isso em todo lugar, e de uma maneira admiravelmente honesta. Para mim, isso realmente é uma das coisas mais extraordinárias, mais fascinantes acerca deste Livro. Ele não encobre nada. Não posso entender o homem que não crê neste Livro como o Livro de Deus. Ele é muito honesto. Ele não procura ocultar as faltas de seus maiores heróis. As Escrituras não tentam construir uma grande imagem de uma série de heróis sem defeito. A mitologia faz isso e a humanidade normalmente faz o mesmo. Mas a Bíblia nunca o faz. Ela mostra os homens em suas fraquezas tanto quanto em sua força. E ela o faz por uma única razão — seu interesse principal não está nestes homens,absolutamente, porém na verdade de Deus. Quero que vocês vejam que a idéia comum de que os cristãos reivindicam ser melhores que as outras pessoas, é uma total caricatura da posição cristã. Ao Invés disso, a posição cristã é, segundo creio, que estou total e absolutamente perdido sem a graça de Deus. Eu sou o que sou pela graça de Deus — essa é a afirmação bíblica. O argumento da Bíblia é que a única esperança para o homem está no evangelho e na graça de Deus. Este é um evangelho para pecadores. Há um sentido em que ele nada tem a dizer a um homem, até que esse veja a si mesmo como um pecador. Noutras palavras, a finalidade de suas afirmações ao homem, é fazê-lo ver que é pecador. A Bíblia nada tem a dizer a um homem que não está arrependido. Sua primeira palavra é um chamado ao arrependimento. Dessa forma, ela trata desta terrível doutrina do pecado. Seu argumento a respeito do pecado pode ser colocado da seguinte forma: o pecado é um terrível poder maligno, o pecado é tão terrível, uma coisa tão poderosa, que leva a todos nós para baixo, pois todo homem que já viveu neste mundo, se tornou vítima dele. A Bíblia nos diz que o poder do pecado é tão grande e terrível como isso que mesmo um homem admirável e maravilhoso como Davi, o rei de Israel, pode cair no caminho que eu já descrevi. “Ora,” diz a Bíblia, “até que você perceba, amigo, que está enfrentando um poder como esse, você não terá começado a pensar corretamente. Se você não reconhecer que, todo o tempo em que estiver nesta vida e neste mundo, haverá este terrível poder infernal dentro de você, ao seu redor e sobre você, então será um mero neófito nestes assuntos! O fato é que aqui neste mundo há principados e potestades, dominadores deste mundo tenebroso, forças espirituais do mal nas regiões celestes, tentando, perseguindo e oprimindo você”.Essa é a doutrina bíblica do pecado. Essa é a terrível coisa que está revelada para nós neste Salmo. O primeiro passo é que o homem tem que reconhecer e confessar sua pecaminosidade. Realmente, este Salmo cinqüenta e um é o que podem denominar, se quiserem, “Uma oração de um desviado”. Foi a oração de um homem que havia crido em Deus e experimentado a graciosa direção divina. Trata-se de um homem que caiu, embora conhecesse a verdade. Mas isso não faz nenhuma diferença. O que Davi afirma aqui acerca do pecado é sempre verdadeiro a respeito do pecado, seja ele o pecado de um crente ou de um incrédulo. O pecado nunca muda o seu caráter, e, portanto, o que Davi diz acerca do pecado é algo que será sempre uma verdade universal a respeito do pecado. Aqui, então, constatamos os passos e os estágios através dos quais um homem inevitavelmente passa quando se torna convencido e convicto do seu pecado. Eu simplesmente quero enumerá-los e sublinhá-los. O primeiro passo é este: o homem chega ao conhecimento e reconhecimento do fato de que ele tem cometido pecado. Ouçam a Davi no versículo 3: “Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim”. A primeira coisa, então, que acontece a um homem quando está convencido e convicto do pecado, é que ele encara o seu pecado e, na verdade, olha de uma maneira honesta ao que tem feito. Este relato todo nos mostra que foi exatamente isso que Davi não fez. Não haveria nisso algo quase inacreditável, que um homem pudesse fazer as coisas que fez e, no entanto, não encará-las? Certamente,Davi deve ter sentido que estava fazendo algo errado; todavia, ele o fez! Na verdade, ele nunca assumiu o fato do delito, e continuou recusando a fazê-lo. E, tendo feito estas coisas terríveis, Davi ainda não as teria assumido, se Deus não tivesse enviado o profeta Natã a ele, fazendo com que Davi reconhecesse o seu pecado, dando-lhe detalhes do mesmo, como tendo acontecido de maneira diferente. Dessa forma, Davi o reconheceu, e foi humilhado até ao pó. Por conseguinte, escreveu este Salmo cinqüenta e um. Esse é sempre o primeiro passo. Devemos parar e pensar, devemos parar por um momento e examinar-nos de frente, encarar a vida que temos vivido, o que fizemos, e o que estamos fazendo. Reconheço que isso é muito desagradável, e as pessoas não gostam de um evangelho que diz coisas como essas. No entanto, se queremos conhecer a salvação de Deus, temos que nos arrepender, e o primeiro passo é a convicção de pecado, e a maneira inicial para alguém se tornar convicto de pecado é parar e olhar para si mesmo. Acaso isso não é espantoso, pergunto novamente? Como poderia Davi ter feito as coisas que fez sem assumi-las? Eis aí todas as coisas que ele fez; mesmo assim ele continua a fazê-las. Como pode ele fazer isso? A única maneira de continuar em tal posição é: recusar-se a assumir o que você está fazendo e, não parar para pensar. E por isso que eu não denuncio a tão conhecida mania por prazer, que é apenas uma tentativa da parte de muitas pessoas de fugir desta autoconfrontação. E desagradável ter que gastar uma noite consigo mesmo e perguntar: “Que tipo de vida eu estou vivendo? Quais são as coisas que eu afago em minha imaginação e em minha mente?” Todavia, isso é absolutamente essencial; temos que parar e encarar a nós mesmos, e a vida que estamos vivendo. Todos nós somos incrivelmente semelhantes a Davi. Quão fácil é desculpar coisas em nós mesmos, passar por cima delas e não dar valor a elas. Contudo, ainda somos propensos a denunciar com fúria as mesmas coisas quando as vemos em outros, ou quando um caso idêntico está diante de nós. Isso faz parte da natureza humana. Isso é verdadeiro com respeito a todos nós como resultado da Queda e do pecado. Projetamos todos esses métodos para poder fugir de nós mesmos.
Deixem-me fazer uma simples pergunta neste ponto: “Amigo, você tem encarado a si mesmo?” Esqueça as outras pessoas. Levante um espelho diante de si mesmo, olhe através dele para a sua vida, olhe para as coisas que você tem pensado, feito e dito, olhe para o tipo de vida que você tem levado. Está satisfeito com ela? Você aprova na vida das outras pessoas aquelas coisas que tem feito na sua própria vida? Você as aprovaria como sendo sem defeito? O primeiro chamado de Deus ao homem, é para que ele seja honesto, pare de argumentar, e encare a si mesmo. Que o homem examine-se a si mesmo. Sim, deixem-me ir ainda mais longe, paremos de argumentar sobre religião e teologia, e simplesmente olhemos para nós mesmos, honesta e sinceramente. Esse é o primeiro passo. “Eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim.” Vocês o têm enfrentado, têm realmente examinado a si mesmos e olhado para dentro dos seus próprios corações? Não há esperança para um homem que não faz isso, e a verdade a respeito do mundo moderno é que as pessoas estão fugindo exatamente disso. As pessoas estão lotando cinemas, lendo novelas — qualquer coisa para preencher suas vidas e manter a autoconfrontação longe dos seus pensamentos. Eu declaro que você tem que lutar pela sua vida e tem que lutar pela sua alma. O mundo fará qualquer coisa para impedir que você encare a si mesmo. Meu querido amigo, deixe-me apelar a você: olhe a si mesmo. Esqueça as outras pessoas e as demais coisas. Esse é o passo inicial rumo ao conhecimento de Deus e à experiência de Sua gloriosa salvação. Todavia, deixem-me levá-los ao segundo passo. O segundo passo é um reconhecimento exato do caráter ou natureza do que nós temos feito. Isso é perfeitamente colocado aqui em três palavras. A primeira é a palavra “transgressão”, a segunda é “iniqüidade”, e “pecado” é a terceira. Agora, deixem-me dizer um pouco sobre essas três palavras. O que significa “transgressão”? Significa rebelião, significa a revolta da vontade contra a autoridade, e especialmente contra uma pessoa de autoridade. Esse é o significado de transgressão. “Apaga as minhas transgressões.” Noutras palavras, Davi admite que ele transgrediu, admite que foi rebelde. Ele se rebelou contra uma autoridade, contra alguém. Sua própria vontade se levantou dentro dele, e ele se manifestou. Ele foi governado pelo desejo e se permitiu ser influenciado pela concupiscência. Transgressão implica num desejo de fazer a própria vontade, um desejo de fazer o que queremos fazer, o que nós gostamos de fazer. Isso envolve uma escolha deliberada, envolve um ato de contestação ativa. Sempre significa que fazemos alguma coisa que nossa própria consciência nos diz ser errada. Isso é um ato voluntário e deliberado de desobediência, uma violação de autoridade — esse é o significado de transgressão. Todo homem que se arrepende, percebe que é culpado disso. Ele está disposto a admitir: “Sim, eu fiz isso, embora soubesse que era errado! Eu sabia que a voz dentro de mim, minha consciência, dizia não, mas eu o fazia. Eu fui um rebelde, fiz isso deliberadamente!” Iniqüidade”, o que significa? Bem, iniqüidade significa que um ato está torcido ou que está alterado. Iniqüidade significa perversão, e isso foi óbvio no caso de Davi. “Lava-me completamente da minha iniqüidade! a coisa impura, esse ato terrível. O que havia em mim que me levou a fazer aquilo? Que distorção, que perversão! Quão pervertido eu devia estar para fazer aquilo!” Vocês se lembram o que Davi fez. Não preciso me demorar enfatizando o pecado, sua conduta distorcida, e a perversão disso tudo. E, quanto a isso, quão verdadeiro é referente a cada ato do qual somos culpados. Vocês e eu não podemos ser culpados de assassinato, graças a Deus! Não somos culpados de algumas das outras coisas das quais Davi foi culpado. Mas eu peço que cada um se examine; acaso não vê que muitas coisas que tem feito são distorcidas e pervertidas? Você não vê que muitas de suas ações na vida estão erradas? Ciúme, inveja e malícia — que distorção horrível! Desejar que o mal aconteça a outrem, que alguém não seja honrado — pensamentos maus, corrupção, distorção, torpeza, impureza — “iniqüidade”! E todos nós somos culpados de iniqüidade. Porventura existe alguém que negaria a existência de tal distorção nele, e que tantas das suas ações tiveram esta horrível distorção e perversão nelas? Finalmente, a respeito da última palavra, pecado”. O que significa pecado? Pecado significa errar o alvo, e essa é uma maneira muito boa de defini-lo. O pensamento que ele transmite é este: que não estamos vivendo conforme deveríamos viver. Eis aí um homem apontando para um alvo; eis aí a sua meta. Ele atira, porém erra o alvo. Ele não acertou na mosca. Isso significa que nós não somos o que deveríamos ser, que estamos “fora de linha”. Isso é o que pecado sempre significa. Ele indica que um homem está vivendo uma vida que não devia viver. Mostra que o homem não está andando na vereda que Deus traçou para ele. O homem não está indo diretamente para a frente. Ele não mantém um padrão de retidão. Há um movimento para trás e outro para a frente, há uma falta de retidão nele. Eu não preciso insistir nesses pontos. Sei que cada pessoa nesta congregação deve reconhecer que ele ou ela é culpado dessas três coisas — transgressão (ou rebelião), iniqüidade (ou perversão, distorção, ações erradas) e pecado (isto é, errar o alvo, não chegar lá, não sermos o que devemos ser, o que pensamos ser, indo aqui, ali e em qualquer lugar em vez de irmos onde deveríamos estar indo — diretamente para a frente). O segundo passo sobre convicção de pecado e sobre confissão de pecado é que o homem reconhece que esse é o caráter da sua vida e ações. O passo número três é que o homem reconhece e confessa que tudo isso é feito contra Deus e diante de Deus. “Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista.” Certamente”, diz alguém, “isso tem que estar errado! Davi deve ter dito: Contra Bate-Seba, contra Urias, contra os homens que foram mortos naquela batalha, contra Israel e meu povo eu tenho pecado”. Mas ele disse: “Contra ti, contra ti somente...”. Ah, ele está totalmente certo! Ele não negou que tinha pecado contra os outros, contudo aqui está indo um passo além disso. Reconhece que suas ações não são simplesmente ações em si e de si mesmas. Ele percebe que elas não apenas afetaram e envolveram outras pessoas, mas a essência real é que ele pecou contra Deus. Então, aqui está a essencial diferença entre remorso e arrependimento. Um homem que sente remorso é alguém que reconhece o seu erro, porém não tem se arrependido até que perceba que pecou contra Deus. Por que ele sentiria assim? Deixem-me tentar responder a pergunta da seguinte maneira. Pecado, vejam vocês, significa uma violação do que Deus intentou, e do que Deus pretendeu que o homem fosse. Deixem-me colocar isso, de uma forma preliminar, da seguinte forma: quando um homem peca, ele não está somente fazendo certas coisas que não deveria fazer; está pecando contra a natureza humana, está frustrando-a. Portanto, ele está pecando, contra a humanidade, e por causa disso, está pecando contra Deus que criou o homem. Deus criou o homem perfeito, e Deus intentou que o homem vivesse uma vida perfeita. Ele deu ao homem a possibilidade de viver assim, e quando um homem peca, ele desagrada a Deus. “Contra ti, contra ti somente pequei.” Eu tenho violado o que Deus tencionou que o homem fosse. Estou torcendo e pervertendo a criação de Deus. Toda vez que eu peco, estou violando a santa lei de Deus. Os dez mandamentos, a lei moral, a idéia comum de decência na natureza humana — tudo isso procede de Deus. Vejam só, todos nós sabemos disso, e a cada momento eu sou culpado de transgressão, ou iniqüidade, ou pecado; estou violando a santa lei de Deus, e o plano estabelecido para a vida do homem. De fato, eu também estou violando, como lhes tenho lembrado, minha consciência dentro de mim. A consciência foi colocada por Deus em mim. Não fui eu que a coloquei. Quão freqüentemente temos desejado não ter uma consciência! Mas ela existe. Vocês conhecem aquela voz interior que fala e lhes diz que certa coisa não deve ser feita. Se fizerem essa coisa, estarão violando o preceito de Deus. Isso também é pecar contra Deus, porque significa que fazemos todas essas coisas a despeito da Sua bondade para conosco. Penso que essa foi a coisa que quebrantou o coração de Davi mais do que qualquer outra. Deus havia sido tão bom para com ele. Ele era simplesmente um jovem pastor de ovelhas e Deus fez dele rei deste grande reino e lhe concedeu abundantes bênçãos. Davi, no entanto, confessou: “Eu tenho feito essa coisa terrível”. Ele disse: “Contra ti, contra ti somente pequei”. Meu amigo, Deus lhe tem dado o dom da vida. Você não trouxe a si mesmo para esse mundo, e você é uma personalidade única. Ele tem derramado Suas bênçãos sobre você. Ele colocou você numa família, envolvendo você de amor. Ele tem dado a você alimentação e abrigo. Ele poderia ter-lhe negado tudo isso. Pense na bondade de Deus que tem sido concedida a você de diferentes maneiras! E nós ainda O desprezamos! Pecamos contra Ele e contra Sua maravilhosa bondade, benignidade e amor para conosco! Qual é o próximo passo? O próximo passo é que o homem descobri que não tem absolutamente nenhuma desculpa, nenhum direito. “Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista, para que sejas justificado quando falares, e puro quando julgares.” Noutras palavras, Davi está dizendo a Deus: “Eu não tenho desculpa nenhuma. Eu não tenho direito. Nada há a ser dito por mim. Não há argumento para o que eu tenho feito. A coisa toda foi o resultado da total teimosia. Estou inteiramente errado. Nada tenho para pleitear a favor duma mitigação”. Quero enfatizar isso. Afirmo que isso é uma parte absolutamente essencial do arrependimento e da convicção de pecado. Por conseguinte, insisto com vocês para que examinem a si mesmos e suas ações. Podem justificar tudo o que têm feito? Vocês realmente podem pleitear uma mitigação? Deixem-me assumir a posição de Natã, o profeta. O que sucederia se eu me levantasse neste púlpito e descrevesse sua vida para vocês mediante uma parábola acerca de outra pessoa? Vocês entenderiam isso? Devemos examinar a nós mesmos a esse respeito. Deixem-me falar francamente, colocando a situação da seguinte forma: enquanto estiverem na posição de tentarem justificar-se, nunca terão se arrependido. Enquanto estiverem se apegando a qualquer tentativa de auto-justificação e justiça própria, afirmo que não terão se arrependido. Certamente, o homem que está arrependido é aquele que, com Davi, diz: “Não há uma simples desculpa.Eu vejo isso claramente. Eu não tenho justificação.As coisas que vejo em minha vida — eu as odeio, não tenho o direito de fazê-las, eu as faço deliberadamente, sei que estou errado. Admito isso! Eu francamente confesso isso — “para que sejas justificado quando falares, e puro quando julgares”. Acaso você sente, meu amigo, que Deus é um tanto duro quando Ele o condena? Você sente que Deus estaria sendo injusto se você a final viesse a se achar no inferno? Se você pensa assim, então ainda não se arrependeu. Eu reafirmo que o teste do arrependimento é este: que um homem tendo olhado a si mesmo, e o seu próprio coração e vida, diz para ele mesmo: “eu nada mereço senão o inferno, e se Deus me enviar para lá não tenho uma simples reclamação a fazer. Não mereço outra coisa!” Essa é uma parte essencial do arrependimento, e sem arrependimento não há salvação. O homem, eu afirmo, que se sente convicto do pecado, é o homem que segue esses passos. E isso me leva ao último passo. O último passo é que o homem percebe e reconhece que sua natureza é essencialmente má. “Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe.” Vocês vêem os passos? A primeira coisa é que o homem para e assume os fatos, ele olha para si mesmo. Então, no segundo passo, ele reconhece as ações das quais tem sido culpado e as admite como sendo errôneas em três aspectos. E então ele diz: “Sim, mas isso envolve Deus, e eu tenho pecado contra Deus”. O próximo passo vem quando ele admite: “Eu não tenho nenhum direito ou desculpa”. Mas, então ele pergunta a si mesmo: “O que me fez praticar isso? O que me levou àquilo? O que há em mim que me torna capaz de todas essas coisas — ciúme, inveja, ódio, malícia, avareza, desejo, concupiscência, paixão?” Por último, ele volta para si, observa isso, e declara: “Minha natureza deve ser corrupta, meu coração deve ser mau! Não é o mundo fora de mim, é algo dentro de mim que está corrompido!” Noutras palavras, o último passo quanto à convicção de pecado é que o homem sobe de uma conscientização dos seus pecados para uma conscientização do pecado e de sua total desvalia.
O último passo é o que Paulo descreveu no sétimo capítulo da Epístola aos Romanos: “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum... Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?” (versículos 18 e 24). Ou seja, ele declara: “dentro de mim eu sou corrompido, eu sou impuro, meu coração é sujo. Não é simplesmente que eu faço as coisas que eu não deveria fazer, o problema está em mim mesmo. O problema é que eu desejo fazer essas coisas, eu quero fazê-las. Por quê? Porque há algo em mim que atende à atração do mal. E isso o que me aborrece. Eu sou capaz disso e gosto disso. É o meu coração, não é o mundo”. Como Shakespeare o colocou: O erro, querido Brutus, não está em nossas estrelas Mas em nós mesmos, que somos inferiores. Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe.” A partir do momento do meu nascimento neste mundo, há uma tendência em mim para o mal; há algo torcido e pervertido. Isso está em mim; faz parte do meu ser e natureza. Esses, então, são os passos na convicção de pecado e na confissão de pecado. Você percebe a verdade do que tenho tentado dizer, será que não quer clamar como Davi: “Tem misericórdia de mim, ó Deus”? Essa é a coisa certa, a única coisa a fazer, meu amigo. Se você se vê como alguém que tem pecado, então, eu o imploro, corra para Deus, lance-se sobre a Sua misericórdia. Você não fará isso em vão. Descobrirá que Ele fez total provisão para você. Ele enviou o Filho do Seu amor a este mundo justamente por você, para morrer pelo seu pecado no monte do Calvário. Seu pecado foi punido, Ele o cancelou na cruz, Ele purificará você e fará você alvo como a neve, Ele o dará todas as coisas que necessitar. Corra para Ele. Se você tem visto sua necessidade, fará isso. O homem que vê isso, como Davi viu, imediatamente clama: “Tem misericórdia de mim, ó Deus... purifica-me”. Faça o mesmo e sua oração será gloriosamente respondida, e você experimentará a alegria da grande salvação de Deus.

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