5. Em quinto lugar,
dependemos inteiramente do Espírito de Deus para produzir efeito concreto
decorrente do evangelho, o que deve sempre constituir o nosso objetivo. Não nos
levantamos em nossos púlpitos a fim de desfraldar a nossa habilidade na esgrima
esportiva da espada espiritual, mas, sim, para empreender luta de verdade. O
objeto que temos em mira é fazer a espada do Espírito traspassar o coração dos
homens. Se em algum sentido se pode pensar na pregação como uma exibição
pública, há de ser como a exibição do jogo do cultivo, que consiste em cultivar
realmente a terra. A competição não está na aparência dos arados, mas no
trabalho feito. Dessa forma sejam julgados os ministros pelo modo como manejam
o arado do evangelho, e como sulcam o solo da lavoura, de ponta a ponta. Sempre
visem ao efeito. "Ora", dirá alguém, "entendi que você teria
dito: "Nunca faça isso." Digo também que nunca visem ao efeito, no
sentido infeliz dessa expressão. Nunca visem ao efeito segundo o modo dos
artífices de clímax, dos declamadores de poesia, dos manipuladores de lenços, e
dos sopradores de palavrório bombástico. Para o homem que degrada o púlpito
reduzindo-o a um palco de teatro para exibir-se, muito melhor que não tivesse
nascido. Visem à correta espécie de efeito: inspirar os crentes para coisas
mais nobres; levá-los para mais perto do seu Senhor; fortalecer os que vacilam
até que se livrem dos seus temores; levar os pecadores ao arrependimento e ao
exercício da fé incondicional em Cristo. Sem que se sigam estes sinais, para
que servem os nossos sermões? Seria uma lástima dizer : "Passei por muitas
posições de honra e de confiança, tanto na igreja como no estado, mais do que qualquer
colega da minha classe no Seminario. Mas
se tivesse a certeza de que, por minha pregação, ao menos uma alma tivesse sido
convertida a Deus, teria nisso maior consolo.
Milagres da graça devem constituir os selos do nosso ministério. Quem
pode dá-los, senão o Espírito de Deus? Converter uma alma sem, o Espírito de
Deus! Ora, vocês não podem nem fazer um inseto. Muito menos criar um novo
coração e um espírito reto. Tentem conduzir os filhos de Deus a uma vida mais
elevada, sem o Espírito Santo. É indizivelmente mais provável que os levem à segurança
carnal, se procurarem elevá-los por seus próprios métodos, sejam estes quais
forem. Não poderemos alcançar os nossos fins se omitirmos a cooperação do
Espírito do Senhor. Portanto, com forte clamor e lágrimas, ponham nEle a sua
esperança, dia a dia. A falta de
reconhecimento definido do poder do Espírito Santo jaz na raiz de muitos
ministérios vãos. As violentas palavras de Robert Hall são tão verdadeiras
agora como quando as esparramou como lava derretida sobre uma geração
semisociniana. "Por um lado, merece atenção o fato de que os mais
eminentes e bem sucedidos pregadores do evangelho um Brainerd, um Baxter, um Schwartz foram os
mais notáveis pela simples dependência em que se colocavam do auxílio
espiritual. Por outro lado, nenhum sucesso acompanhou as ministrações daqueles
que têm negligenciado ou negado esta doutrina. Estes encontraram a maior
censura à sua presunção no total fracasso dos seus esforços, em que ninguém
lutara pela realidade da interferência divina, no que a eles se refere; pois, quando
o braço do Senhor se revela àqueles pretensos mestres do cristianismo, quem
acreditará que não haja tal braço? Foi preciso deixá-los trabalhar num campo a
respeito do qual Deus ordenou que não caísse chuva nele. Como se conscientes
disso, por último voltaram os seus esforços para um novo canal e, sem esperança
de conversão de pecadores, limitaram-se à sedução dos fiéis. Nisto, é preciso
confessar, eles têm agido de modo perfeitamente coerente com os seus
princípios. Pois que, ao menos, a propagação da heresia não requer a
assistência divina."
6. Em seguida,
necessitamos do Espírito de Deus como o Espírito de súplicas, que faz
intercessão pelos santos de acordo com a vontade de Deus. Uma parte muito
importante da nossa vida consiste em orar no Espírito Santo, e o ministro que
não pensa assim, melhor seria que abandonasse o ministério. É preciso que
abundante oração acompanhe a pregação zelosa. Não podemos estar sempre de
joelhos fisicamente, mas a alma jamais deve abandonar a postura da devoção. O
hábito de orar é bom, mas o espírito de oração é melhor. Deve-se manter o
retiro periódico, mas a contínua comunhão com Deus deve ser o nosso objetivo. Em
regra, os ministros, nunca devem ficar muitos minutos sem erguer de fato os corações em oração. Alguns podería dizer com sinceridade que raramente
passam um quarto de hora sem falar com Deus, e isto não como dever, mas como
instinto, como um hábito da nova natureza pelo qual não reclamam maior crédito
do que o bebê por chorar em busca da mãe. Como poderíam agir doutro modo?
Agora, se devemos estar intensamente no espírito de oração, temos necessidade
de que o óleo secreto seja derramado no fogo sagrado da devoção dos nossos
corações. Oxalá queiramos ser mais e mais visitados pelo Espírito de graça e de
súplicas. Quanto às nossas orações em público, queira Deus que nunca digam com
verdade que elas são oficiais, formais e frias. Contudo, é o que serão se o
suprimento do Espírito for deficiente. Não julgo os que usam liturgia. Mas aos
que estão acostumados a fazer oração espontânea, digo vocês não podem orar em público de modo
aceitável, ano após ano, sem o Espírito de Deus. As orações mortas serão
ofensivas ao povo muito antes de correr um ano. Como há de ser, então? De onde
virá o nosso socorro? Certos fracotes dizem: "Tenhamos liturgia!" Em
vez de procurar o auxílio divino, descem ao Egito, em busca de socorro. Em vez
de colocar-se na dependência do Espírito de Deus, vão orar seguindo um livro!
De minha parte, quando não consigo orar, prefiro estar ciente disso e ficar
gemendo por causa da aridez da minha alma, até que o Senhor me visite com a
bênção de uma devoção frutífera. Se vocês estiverem cheios do Espírito Santo,
lançarão fora com alegria todos os grilhões formais para se entregarem à
corrente sagrada e serem levados até encontrarem águas profundas. Às vezes gozarão
mais íntima comunhão com Deus pela oração no púlpito do que em qualquer outro
lugar. Quanto a mim, a minha mais grandiosa hora secreta de oração muitas vezes
dá-se em público. A minha mais genuína experiência de estar a sós com Deus
tem-me ocorrido enquanto elevo súplicas em meio as pessoas. Abro os olhos no
fim de uma oração e volto ao povo reunido com uma espécie de choque ao ver que
me acho na terra, entre os homens. Essas ocasiões não estão sob o nosso
comando. Tampouco podemos elevar-nos a essas condições mediante quaisquer
adestramentos ou esforços. Nenhuma língua pode descrever quão benditas são para
o ministro e para os demais irmãos essas condições! Quão repleta de poder e de
bênçãos há de ser também a prática habitual da oração não posso deter-me aqui
para proclamar. Mas para isso tudo temos que elevar os olhos para o Espírito
Santo. E, louvado seja Deus, não olharemos em vão, pois dEle se diz especificamente
que Ele ajuda as nossas fraquezas na oração.
7. Além do mais, é
importante estar sob a influência do Espírito Santo, uma vez que Ele é o
Espírito de Santidade. Sim, porquanto uma parte muito considerável e essencial
do ministério cristão consiste em servir de exemplo. Nossa gente observa com
muita atenção o que dizemos do púlpito e o que fazemos na esfera social e em
tudo mais. Meus irmãos, acham fácil ser santos?
santos que outros possam considerar como exemplos? Devemos ser maridos
tais, que todos os maridos da igreja possam ser como somos, sem risco. É assim
conosco? Devemos ser os melhores pais. Lástima! Alguns ministros que conheço
estão longe disto pois, com referência às suas famílias, guardam bem as vinhas
alheias, porém não guardam bem as suas. Seus filhos são negligenciados e não
crescem como semente santa. É assim com os seus? Nas conversas com os nossos
semelhantes, somos inculpáveis e inofensivos, como filhos de Deus
irrepreensíveis? É o que nos cabe ser. Respeito as razões pelas quais o sr.
Whitefield mantinha sempre o terno de linho escrupulosamente limpo. "Não,
não", costumava dizer, "isto não é ninharia. O ministro não deve ter
mancha, nem mesmo em sua roupa, se possível." Não há como exagerar a
pureza num ministro. Vocês conhecem algum colega infeliz que apareceu
salpicado, e afetuosamente o ajudaram a remover as manchas, mas perceberam que
teria sido melhor se as roupas estivessem alvas sempre. Oh, mantenham-se
imaculados do mundo! Como pode ser assim estando nós num cenário de tentação e
vivendo cercados de pecados? Somente se formos preservados por um poder
superior. Se vocês hão de andar em toda a santidade e pureza, como convém aos
ministros do evangelho, devem ser diariamente enchidos do Espírito Santo.
8. Uma vez mais,
precisamos do Espírito Santo em Sua qualidade de Espírito de discernimento,
pois Ele conhece as mentes dos homens como conhece a de Deus, e necessitamos
muito disto quando lidamos com personalidades difíceis. Há neste mundo alguns
indivíduos que talvez pudessem receber permissão para pregar, mas que nunca
deveríamos tolerar que se tornassem pastores. São desqualificados mental ou
espiritualmente. Na igreja de São Zeno, em Verona, a uma estátua daquele santo,
representando-o sentado. O artista lhe deu pernas acima dos joelhos tão curtas
que ficou sem colo para abrigar crianças, de modo que ele não poderia ser um
pai bom para aconchegar os filhos. Receio que haja muitos outros que trabalham
com semelhante falta de habilitação. Não podem levar a sua mente a entrar de
coração nos cuidados pastorais. São capazes de dogmatizar sobre uma doutrina e
de polemizar sobre uma ordenança, mas, entrar em compassiva empatia com uma
experiência alheia está longe deles. Uma pessoa assim só pode prestar frio
consolo às consciências aflitas. Seu conselho terá o mesmo valor do conselho
dado pelo montanhês escocês que, segundo contam, viu um inglês afundando num
pântano em Ben Nevis. "Estou afundando!", gritou o viajante.
"Você pode dizer-me como sair daqui?" O montanhês calmamente
replicou: "Acho que é provável que você não vá conseguir sair daí nunca",
e seguiu seu caminho. Conhecemos ministros dessa laia. Ficam confusos e quase
perdem a paciência com os pecadores, lutando à beira do desânimo. Se eu e você,
despreparados para a arte do pastoreio, fôssemos colocados entre ovelhas e
cordeiros no início da primavera, que haveríamos de fazer com eles? Na mesma
perplexidade se acham os que nunca foram ensinados pelo Espírito Santo sobre a
maneira de cuidar das almas. Oxalá as Suas instruções nos livrem de tão
desditosa incompetência! Sobretudo, irmãos, por mais ternura de coração ou
amorosa preocupação que tenhamos, não saberemos tratar da imensa variedade de
casos, a não ser que o Espírito de Deus nos dirija, pois não existem dois
indivíduos iguais. E mesmo um caso idêntico a outro requererá tratamento
diferente em diferentes ocasiões. Num período poderá ser melhor consolar,
noutro repreender. E a pessoa de quem você se compadeceu empaticamente até às
lágrimas hoje, talvez necessite que a enfrente com olhar carrancudo amanhã, por
dizer tolices da consolação que você lhe deu. Os que curam os quebrantados de
coração e proclamam libertação aos cativos precisam ter sobre si o Espírito do
Senhor.
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