Com Ele está o guia
da doutrina mais labiríntica, e pode conduzir-nos no caminho da verdade. Pode romper
os portais de bronze e picar em pedaços as barras de ferro, e dar-nos os tesouros
das trevas e as riquezas ocultas dos lugares secretos. Se vocês estudarem os
originais, consultarem comentários e meditarem profundamente, mas deixarem de
clamar vigorosamente ao Espírito de Deus, o seu estudo não lhes trará proveito.
Entretanto, ainda que lhes seja vedado o emprego daqueles recursos (o que
confio não lhes suceda), se esperarem do Espírito Santo em simples dependência
do Seu ensino, aprenderão muito da intenção divina. O Espírito de Deus nos é
peculiarmente precioso, porque de modo muito especial Ele nos instrui sobre a
pessoa e a obra de nosso Senhor Jesus Cristo; e este é o ponto principal da
nossa pregação. Ele toma coisas de Cristo e no-las mostra. Se tomasse coisas de
doutrina ou preceito, ficaríamos contentes por essa bondosa
assistência. Mas,
visto que se deleita especialmente nas coisas de Cristo, e focaliza a Sua
sagrada luz na cruz, regozijamo-nos ao ver o centro do nosso testemunho
iluminado tão divinamente, e nos asseguramos de que a luz se difundirá sobre
todo o restante do nosso ministério. Busquemos ao Espírito de Deus com este
brado: "Ó Espírito Santo, revela-nos o Filho de Deus, e assim mostra-nos o
Pai." Como Espírito de conhecimento, não só nos instrui quanto ao
evangelho, mas também nos leva a ver o Senhor em todas as outras coisas. Não
devemos fechar os nossos olhos para Deus na natureza, ou na história geral, ou
nas ocorrências providenciais diárias, ou em nossa experiência pessoal. E em
todas estas coisas, o nosso Intérprete da mente de Deus é o bendito Espírito.
Se clamamos: "Ensina-me o que queres que eu faça"; ou, "mostra-me
o motivo pelo qual contendes comigo"; ou, "dite-me qual é a Tua intenção
nesta rica providência de misericórdia"; ou, "revela-me o Teu
propósito naquela outra dispensação mista de juízo e graça" seremos bem
instruídos em cada caso. Pois o Espírito é o candeeiro de sete braços do
santuário, e pela Sua luz todas as coisas podem ser vistas corretamente. Como
Goodwin observa bem: "É preciso haver luz acompanhando a verdade, se temos
de conhecê-la. Prova-nos isto a experiência de todos os homens e Mulheres
envoltos na graça de Deus. Qual a razão por que vocês vêem algumas coisas num
capítulo numa ocasião, e não em outra; alguma porção de graça em seus corações numa ocasião, e não
em outra; têm um vislumbre das realidades espirituais numa ocasião, e não em outra?
Os olhos são os mesmos, mas é o Espírito Santo que abre e fecha esta lanterna
de furta-fogo, como eu poderia chamar-lhe. Conforme Ele a abre mais, ou a
aperta, ou a fecha, estreitando-a, temos maior ou menor visão. E às vezes Ele a
fecha totalmente, e então a alma fica na escuridão, embora seus olhos nunca
tenham estado tão bons." Amados
irmãos, não deixem de ir a Ele em busca desta luz, ou ficarão nas trevas e serão guias cegos de cegos.
2. Em segundo
lugar, o Espírito é chamado Espírito de sabedoria, e precisamos enormemente
dEle nesta capacidade. Sim, pois o conhecimento pode ser perigoso, se não for
acompanhado pela sabedoria, que é a arte de usar acertadamente o que
conhecemos. Manejar bem a Palavra de Deus é tão importante como compreendê-la
plenamente. Alguns que evidentemente compreenderam uma parte do evangelho, deram
indevida proeminência a essa porção isolada e, portanto, exibiram um cristianismo
deformado, para prejuízo daqueles que o receberam, visto que, em conseqüência
disso, exibiram por sua vez um caráter deformado. O nariz é um traço proeminente
do rosto do homem. É possível, porém, fazê-lo tão grande que os olhos, a boca e
tudo mais sejam lançados à insignificância. Um desenho assim é caricatura, não
retrato. Do mesmo modo, certas doutrinas importantes do evangelho podem ser
proclamadas com tal excesso que se lança o restante da verdade à sombra, e a
pregação já não é o evangelho em sua beleza natural, mas uma caricatura do
evangelho. Contudo, deixem-me dizê-lo, algumas pessoas parecem fortemente
apegadas a essa caricatura. O Espírito de Deus lhes ensinará o emprego da faca
sacrificial para dividir as ofertas. E lhes mostrará como usar as balanças do
santuário, para pesarem e misturarem as preciosas especiarias em quantidades
certas. Todo pregador experimentado sente que esse é o momento supremo, e bom
será que seja capaz de resistir à tentação de negligenciá-lo. Que lástima,
alguns dos nossos leitores não desejam sentir todo o conselho de Deus! Têm as
suas doutrinas favoritas e gostariam de fazer-nos calar em tudo mais. Muitos
são como a escocesa que, depois de ouvir um sermão, disse: "Estaria muito
bem, se não fosse aquela droga de deveres no fim." Há irmãos dessa
espécie. Desfrutam da parte consoladora
as promessas e as doutrinas mas
só de leve se deve tocar na santidade prática. A fidelidade requer que entreguemos
o evangelho sob todos os ângulos, sem omitir nada e sem exagerar em nada. Para
isto requer-se muita sabedoria. Com seriedade indago se algum de nós tem o
tanto desta sabedoria que necessitamos.
Provavelmente somos afligidos por algumas parcialidades inescusáveis e inclinações injustificáveis.
Ponhamo-las para fora e acabemos com elas. Talvez tenhamos consciência de que
passamos por alto certos textos, não porque não o compreendemos (o que poderia
justificar-se), mas porque os compreendemos e raramente gostamos de dizer o que
eles nos ensinaram, ou porque talvez haja alguma imperfeição em nós, ou algum
preconceito entre os nossos leitores que aqueles textos revelariam de modo
demasiado claro para que nos sentíssemos bem. Esse silêncio pecaminoso tem que
ser eliminado imediatamente. Para sermos sábios mordomos e repartirmos as porções
certas de alimento para os membros da casa do divino Senhor, precisamos do Teu
ensino, ó Espírito de Deus! Tampouco
isso é tudo, pois mesmo que saibamos manejar bem a Palavra de Deus, carecemos
de sabedoria para a seleção da porção particular da verdade que é mais
aplicável à ocasião e às pessoas reunidas. Como também de igual discrição no
tom e na maneira de apresentar a doutrina. Creio que muitos irmãos que pregam
sobre a responsabilidade humana, lançam-se de modo tão legalista que causam
desgosto a todos os que amam as doutrinas da graça. Por outro lado, receio que
muitos pregam a soberania de Deus de modo tal que afastam inteiramente da ala
calvinista todas as pessoas que crêem na livre ação do homem. Não devemos
ocultar a verdade por um momento sequer, mas devemos ter sabedoria para
pregá-la sem que haja choque ou ofensa, e, sim, um esclarecimento gradativo
daqueles que não conseguem vê-la de todo, e um processo pelo qual se conduzam
os irmãos mais fracos ao pleno círculo da doutrina do evangelho. Irmãos,
precisamos de sabedoria também no modo de colocar as coisas para diferentes
pessoas. Pode-se demolir um ser humano com a mesma verdade destinada a
edificá-lo. Pode-se causar enjôo a alguém com o mel com que se pretendia
adoçar-lhe a boca. Tem-se pregado a grande misericórdia de Deus sem cuidado, o
que tem levado centenas à licenciosidade. Por outro lado, tem-se ocasionalmente
apregoado a terribilidade do Senhor com violência tão fulminante que tem levado
muitos ao desespero, e daí a um decidido desafio ao Altíssimo. A sabedoria é
proveitosa para dirigir, e aquele que a tem expõe a verdade na ocasião certa e
trajada com as suas vestes mais apropriadas. Quem pode dar-nos esta sabedoria,
senão o bendito Espírito de Deus? Irmãos, vejam que, com a mais humilde
reverência, esperem a Sua direção.
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